Médica investigada por morte de criança pode responder por falsidade ideológica
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| Foto: divulgação |
Benício morreu na madrugada do dia 23 de novembro, após atendimento médico. Durante a apuração, a médica reconheceu o erro em um documento encaminhado à Polícia Civil e em mensagens trocadas com o médico Enryko Queiroz, nas quais pediu auxílio. A defesa, no entanto, sustenta que essa admissão ocorreu sob forte abalo emocional, classificando a confissão como feita “no calor do momento”.
A técnica de enfermagem Raiza Bentes Paiva, responsável pela aplicação do medicamento, também é alvo da investigação. Em depoimento, ela afirmou que seguiu rigorosamente a prescrição médica ao administrar adrenalina por via intravenosa e sem diluição. Segundo Raiza, a mãe da criança foi informada previamente sobre o procedimento e teve acesso à prescrição antes da aplicação.
De acordo com o delegado Marcelo Martins, a Polícia Civil identificou indícios de irregularidade na forma como Juliana Brasil se apresentava profissionalmente. As investigações apontam que ela utilizava carimbo e assinaturas com referência à especialidade de pediatria, apesar de não possuir o título oficialmente reconhecido.
“Todas as normas do Conselho Federal de Medicina são claras ao estabelecer que o médico que não possui especialização não pode se identificar como especialista. Ela utilizava a referência à pediatria em carimbo e assinatura, o que não é permitido”, afirmou o delegado.
Ainda conforme a autoridade policial, essa conduta pode caracterizar dois crimes distintos. “Isso pode configurar falsidade ideológica e uso de documento falso. A investigação segue agora também nessa linha, além da apuração do homicídio doloso por dolo eventual”, explicou.
A Polícia Civil continua colhendo depoimentos e analisando documentos para esclarecer as circunstâncias do atendimento e definir eventuais responsabilidades criminais. O Hospital Santa Júlia, onde o caso ocorreu, não se manifestou sobre o fato de Juliana Brasil atuar no setor pediátrico sem possuir especialização reconhecida.
Na última sexta-feira (12), a Justiça do Amazonas revogou o habeas corpus preventivo que havia sido concedido à médica.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) permite que médicos obtenham o Título de Especialista em Pediatria (TEP) sem a necessidade de residência médica, desde que sejam aprovados na Prova de Título. Em nota enviada à imprensa, a defesa de Juliana Brasil afirmou que, embora ela não possua o título de especialista, é formada desde 2019 e atuava legalmente na área, acumulando experiência prática. Os advogados informaram ainda que a médica pretendia realizar a prova de titulação neste mês de dezembro.

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